sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Vaticano II - A pastoralidade que incomoda.

Diante de alguns estudos sobre a doutrina da Igreja, não há outro tema tão polêmico e citado quanto a suposta falibilidade do concílio Vaticano II, de sua suposta permeabilidade ao protestantismo e todas as tendências negativas que se julgam ser encontrados hoje em certos pontos da Igreja.
O concílio pastoral, é discutido e rejeitado por alguns estudiosos - ortodoxos, tradicionalistas - pelo fato de não recorrer aos dogmas da Igreja, e de fato ter sido associado a continuidade pastoral da mesma.
O discurso de abertura do Santo Padre - João Paulo XXIII - indica a prioridade do concílio, que uma vez inspirado por Deus, insistiu a necessidade de alcançar a realidade pastoral da época, e indiferente a qualquer problema, manter imutáveis a Igreja e sua doutrina, revelada por Jesus Cristo.

“é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do « depositum fidei », isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral.” (1)

Inflamado pelo espírito de missão, a finalidade do concílio é que o
"depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz." A proposta, clara e simples, distoa-se do concílio convocado para decisões dogmáticas e/ou doutrinárias, mas faz-se tão qual importante: inclui na realidade de toda a Igreja - Bispos, Presbíteros e leigos fiéis - a potencialidade imútavel dos dogmas católicos junto à necessidade de expansão do amor de Cristo, através da pregração e expressão da Palavra de Deus.
O princípio da difusão do cristianismo exigiu dos cristãos em geral, a necessidade de manter a doutrina intacta, e lançar-se ao mundo para a sua evangelização que distoa-se eventualmente do Reino de Deus.
Torna-se assim, responsabilidade também dos leigos fiéis, prezar pela fidelidade das tradições e ensinamentos da Igreja, sendo os mesmos, responsáveis pela unidade entre céu e terra, principalmente ao ser lançado o convite ao ecumenismo, onde deve-se olhar para o outro já não com severidade mas com misericórdia e de uma maneira justa a tradição fiel da Igreja, expondo àquela cuja a qual é a única Verdade.

Num discurso sobre os 40 anos de concílio Vaticano II, o Santo Papa Bento XVI, salientou essa realidade de interpretações do concílio, as quais diferem entre si, e apresentam 'hermenêutica" distintas, sendo uma de ruptura com os ensinamentos da Igreja, e a outra "silenciosa e frutuosa" dispõe-se do caminho único da Igreja. A dificuldade do concílio se baseia na relação entre fidelidade e dinâmica, onde aos olhos dos tradicionalistas é um golpe certeiro na imutabilidade da doutrina católica, o que é um julgamento errôneo visto que o mundo, ainda que pós-concílio, afasta-se do alto, onde a juventude torna-se um desafio de evangelização e o número de católicos fiéis não seja nada regular, e é a proposta do concílio um fator determinante para que isso não se torne uma realidade universal na Igreja.

É fato que a modernidade atingiu a Igreja. As interpretações erradas em nome do concílio, tem acarretado uma série de dificuldades a conteporaneidade, e para o Santo Padre, restaurar a mesma, em tempos de uma suposta crise é um fato concreto de sua caminhada como Vigário de Cristo. A imoralidade dos fiéis, os desvios litúrgicos, a busca por uma espiritualidade eventualmente mais subjetiva a teologia da libertação, enfim, todos as influências negativas, as interpretações falsas sobre o concílio e a ausência de conduta moral por conta do mundo contemporâneo acarretam, de fato, uma realidade incoveniente, o que é causada por seus membros e não por um concílio inspirado e realizada na santidade de Deus.

Como leigos fiéis, somos convidados e temos a obrigação de lutar pela fé e pela Igreja, conservando sua doutrina e difundindo-a por todo o mundo. A cautela se faz necessária em meio as atribuições negativas que se fazem nos tempo atuais, onde são impróprias da Igreja e de sua tradição algumas atitudes pessoais e isoladas que tentam manchar a história da Igreja Una e Santa, deixada por Cristo e propagada por seus apóstolos e mártires.

Qualquer tipo de acusação ao Vaticano II, é estar em combate com a comunhao da Igreja, é distoar da comunhão com a Herança de Cristo. A 'crise' a qual enfrentamos, se dá pelo fato de interpretações e julgamentos pessoais, cujo diferem da realidade do concílio e seus documentos, além do seu verdadeiro espírito conciliar. Recorrer ao próprio julgamento é distanciar-se da Verdade pregada pela Igreja e por seu Pastor Bento, que relata o concílio de tal maneira: "
Hoje vemos que a semente boa, apesar de que se desenvolva lentamente, no entanto cresce, e cresce assim também nossa profunda gratidão pela obra desenvolvida pelo Concílio. Paulo VI, no discurso de encerramento do Concílio, indicou depois uma motivação específica pela qual uma hermenêutica da descontinuidade poderia parecer convincente. Na grande discussão sobre o ser humano que caracteriza o tempo moderno, o Concílio devia dedicar-se de forma particular ao tema da antropologia. Tinha que se interrogar sobre a relação entre a Igreja e a fé por um lado, e o ser humano e o mundo de hoje por outro (ibid., p 1066 s.). A questão fica mais clara todavia se, em lugar do termo genérico «mundo de hoje» escolhemos outro ainda mais preciso: o Concílio devia determinar de forma nova a relação entre a Igreja e a idade moderna." (2)

Ad Majorem Dei Gloriam.
Dei, solum.


(1)
John XXIII, 11 October 1962, traduzido por Pete Vere.

http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council_po.html

(2) http://www.padrehenrique.com/index.php/bento-xvi/569-discurso-do-santo-padre-a-curia-romana

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